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Projeto Genoma Humano
Considerado um marco na história da ciência, foi anunciado no fim de junho de 2000 o seqüenciamento de quase 100% do genoma humano, ou seja, a determinação da ordem dos 3,5 bilhões de pares de bases químicas que compõem o DNA (ou ADN - Ácido Desoxirribonucléico) da espécie humana. A divulgação foi feita simultaneamente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha pelos respectivos chefes de governo, Bill Clinton e Tony Blair. Os dois países lideram o Projeto Genoma Humano (PGH), consórcio público internacional lançado oficialmente em 1990, do qual participam cientistas de 18 nações, entre as quais Alemanha, França, China e Japão. O PGH e a empresa norte-americana Celera Genomics, que entrou numa competição com o consórcio pelo pioneirismo da realização, fizeram um acordo e assumiram a autoria conjunta do mapa genético. Na base da disputa está o interesse da empresa privada no patenteamento de genes e nos lucros com o desenvolvimento de remédios e a venda de informações genéticas.
O PGH, liderado pelo americano Francis Collins e pelo inglês John Sulston, pretende apresentar em 2003 a versão definitiva do seqüenciamento - com precisão de um erro por cinco mil pares de bases (timina e adenina, ou guanina e citosina) - e identificar todos os genes humanos (cerca de oitenta mil, dos quais aproximadamente nove mil já são conhecidos). Para isso, dispõe de uma verba de US$3 bilhões. Inicialmente, a conclusão do trabalho estava prevista para 2005, mas foi antecipada sobretudo em razão da concorrência da Celera, empresa de biotecnologia fundada em 1998 pelo médico Craig Venter, que até 1992 fazia parte do PGH. A Celera disse ter destinado US$350 milhões para o empreendimento.
A conclusão do mapa genético será apenas o início de um processo que deverá revolucionar diversas áreas de atuação do homem, especialmente a medicina. Depois de identificados todos os genes, será preciso conhecer sua função e os milhares de proteínas que eles codificam, e que constituem os elementos básicos de estruturação e funcionamento do corpo humano. Os genes representam somente 3% do genoma (ainda não se conhece bem a função do restante do material, e muitos estudiosos acreditam tratar-se apenas de resíduos evolutivos). Para se ter uma idéia da complexidade das instruções por eles fornecidas, basta lembrar que a diferença entre o DNA do homem e do macaco é de apenas 1,5%. Nos seres humanos, a variação entre os genomas é de 0,1%. Por isso, tanto a experiência do PGH quanto a da Celera baseiam-se numa espécie de genoma padrão, composto por amostras do DNA de várias pessoas - embora se saiba que não existem dois genomas idênticos, exceto nos casos de gêmeos univitelinos.
O PGH foi o ponto alto de um processo de aprofundamento nos conhecimentos genéticos cujo episódio inicial foi a descoberta das enzimas redutoras, que marcou o nascimento da engenharia genética, na década de 1970. Essas enzimas permitem cortar o DNA e, conseqüentemente, possibilitam a retirada de genes específicos de um organismo para introduzi-los em outro, o que veio a dar origem aos transgênicos e possibilitou, por exemplo, a produção de insulina por bactérias (o medicamento daí resultante, lançado em 1982, foi o primeiro produzido por manipulação genética); e a criação da vacina contra a hepatite B (1986). Outros procedimentos possibilitados pelas técnicas genéticas foram a clonagem, o cultivo de plantas transgênicas, a alteração de animais para uso como cobaia e a identificação de indivíduos com base em pedaços do DNA - aplicada principalmente para determinação de paternidade e identificação criminal. Antes do homem, cerca de quarenta seres vivos já tiveram seu DNA seqüenciado, entre os quais uma bactéria (o primeiro deles, em 1995), um verme e o vírus causador da AIDS.
O Brasil, primeiro país do hemisfério sul a dominar a tecnologia do seqüenciamento, está desenvolvendo desde 1998 o Projeto Genoma Brasileiro, dirigido pelo pesquisador Andrew Simpson. Um dos principais trabalhos realizados foi o seqüenciamento dos genes da Xylella fastidiosa (concluído em janeiro de 2000), bactéria responsável pela praga do amarelinho, que ataca os laranjais do país e ocasiona prejuízos de aproximadamente US$100 milhões. A pesquisa ganhou notoriedade ao ser publicada como matéria de capa da revista Nature (fato inédito para um estudo totalmente brasileiro), uma das publicações científicas mais conceituadas do mundo. Também está sendo feito o mapeamento dos marcadores genéticos dos tipos de câncer mais comuns no país - estômago, mama, cabeça e pescoço. Além disso, o país elaborou uma técnica de seqüenciamento - denominada método Orestes - que facilita e acelera a localização dos genes, e que já está sendo alvo de interesse internacional. Parte da verba do PGH está sendo destinada ao estudo e ao estabelecimento de soluções para os problemas que podem surgir na chamada "era genômica".
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